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Ele não era como me disseram.

  • Bruna Casagrande.
  • 1 de jun. de 2019
  • 3 min de leitura

Ele não era como me disseram.

Me ensinaram a ter medo de você.

Me disseram que sua voz era insuportável de ouvir, pois era como o som de trovões.

Disseram que se eu não te obedecesse, eu seria punida, e teria que colher os frutos amargos da desobediência.

Disseram que eu precisava me preparar, trocar de roupas, lavar minhas mãos, ir a determinado lugar para poder te encontrar.

Me disseram que você era sério demais para sorrir.

Disseram que era ocupado demais para brincar.

Disseram que era formal demais para sentar no chão do quarto e conversar.

Disseram que você só comparecia a grandes eventos, com incríveis produções.

Me disseram que você era rígido demais para me deixar deitar no seu colo.

Me disseram que você era justo juiz, e que não deixaria impune o culpado.

Me disseram e eu acreditei.

Por muito tempo te servi pelo medo da repreensão.

Te busquei pelo medo de ser esquecida.

Te obedeci pelo medo de ser punida.

Te amar? Me sentir amada?

Não parecia haver espaço para o amor nessa relação.

Regras e mais regras, as quais eram pesadas demais para mim, e acredito que é para qualquer um que é ser humano como eu.

Porque como ser humano, eu careço ser amada, necessito ser cuidada, ensinada, perdoada.

Tem dias que eu não quero, e outros em que eu não consigo caminhar.

E nesses dias, eu me sentia completamente fracassada.

Envergonhada, eu nem queria te olhar, muito menos me apresentar diante de você.

Em dias assim, a última coisa que eu queria era ser julgada, humilhada.

E a primeira coisa que eu queria era ser abraçada.

Pois eu tenho consciência, sei que errei, mas com certeza foi tentando acertar.

Você conhece o meu coração, mas mesmo sabendo disso, eu ficava a esperar o sermão.

Sempre que alguém me conta sobre uma outra pessoa a qual eu não conheço, em minha mente crio uma imagem para descrever o desconhecido. Ele pode não ser como eu imagino, na maioria das vezes não é, pois eu o crio através de informações que ouvi de alguém.

Era assim com você.

Eu te desenhei totalmente diferente, diante de tudo que ouvi a seu respeito.

Mas um dia eu te conheci.

Me assustei porque a imagem que eu criei era muito diferente de quem você era.

Você não parecia estar zangado, nem irado.

Você sorria, não só com os lábios, mas também com seu olhar.

Seus braços não estavam cruzados, eles estavam estendidos. Eu fiquei com vergonha no início, mas com o tempo, seu abraço se tornou o meu refúgio, o meu esconderijo.

Eu tinha medo de te ouvir falar, achava que o monte estremeceria e eu apavorada fugiria, mas de repente ouvi uma voz suave falar. Será que era você mesmo?

Como pode haver tanto contraste.

Demorou um pouco para aceitar o Deus verdadeiro. Pois a imagem do Deus bravo ainda parecia enraizado em minha mente.

Ser conhecida de Deus era o máximo que eu esperava alcançar, nos dias em que você estava tão inacessível, era o único lugar que eu esperava chegar.

Ser amigo, filho, noiva?

Isso era inadmissível! Um Deus tão grande, santo, todo poderoso, se relacionar como um noivo e sua noiva se relacionam. Jamais isso seria possível. Nós somos pequenos, frágeis, e tão vulneráveis.

Era impossível! Mas para o amor nada é impossível. Ele transpõe barreiras aparentemente intransponíveis, vence o invencível.

Eu nem acredito como podemos ser o alvo desse imenso amor. Nós, meros mortais. Além de recebermos o infinito amor, recebemos também uma vida eterna para desfrutar dele.

E tudo isso de graça. Logo eu que fiz tudo para desmerecer esse amor, o recebi.

Não tem a ver com quem eu sou, nem com o que eu faço, depende sempre de quem você é.

Chamar Deus de Pai, paizinho, é indescritivelmente surreal. Chamar o Espírito Santo de amigo é incrível. E chamar Jesus de amado, é inexplicável.

Acordar e te dar bom dia, antes mesmo de lavar o rosto e escovar os dentes, é o acalento para o meu pequeno coração. Como pode um Deus tão grande se importar e estar presente no meu cotidiano mais simples.

É incompreensível, e eu nem busco mais entender. Apenas procuro aceitar, que ele me ama.

Não é irreverência, é loucura mesmo. Loucura aceitar que Deus ama assim, me permitindo ter intimidade com ele.

Incompreensível, porém real.

E dessa realidade quero viver até o último suspiro. Prossigo nessa busca até o dia em que poderei te conhecer, assim como sou plenamente conhecida.

 
 
 

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